Horas depois de proclamar procedente o pedido de impeachment de Wilson Witzel, o desembargador Henrique Figueira, presidente do Tribunal de Justiça do Rio de Janeiro (TJ-RJ), disse que o estado tinha superado um "câncer". Figueira presidiu o Tribunal Especial Misto (TEM), que determinou a destituição do ex-juiz federal do governo do Rio por 10 votos a 0 nesta sexta-feira (30). Na sessão, que teve mais de dez horas de duração, o TEM também formou maioria pela suspensão dos direitos políticos de Witzel por cinco anos.
— O Rio venceu uma etapa muito dolorosa, reconhecendo a prática de atos corruptos pelo senhor Wilson Witzel. A saúde sofreu muito em um momento de instabilidade. Nós tivemos no incio da pandemia um plano criminoso arquitetado que causou malefícios e mortes. A situação do estado passa por essa dor. Tiramos o lado positivo: conseguimos acabar com um câncer, extipar um mal que nos prejudicava — disse o presidente do TJ.
O acontecimento, inédito na História da política fluminense, também repercutiu entre parlamentares. Presidente da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj), o deputado André Ceciliano (PT) disse, por nota, que "Witzel escreveu seu próprio destino", e que agora é "hora de virar a página".
"Não é um capítulo feliz para o Rio de Janeiro ter o primeiro governador da história do Brasil destituído do cargo após processo de impeachment, mas o fato é que Wilson Witzel escreveu o seu próprio destino. Depois de um longo processo em que (Witzel) teve amplo direito de defesa, o veredito final foi dado nesta sexta-feira, 30 de abril, por unanimidade dos votos do Tribunal Misto, confirmando o que a Alerj já havia votado. A hora agora é de virar essa página e seguir trabalhando em conjunto para o Rio superar os seus graves problemas, agravados após 14 meses de pandemia", escreveu Ceciliano.
Ao fim da sessão, o autor da denúncia que originou o processo de impeachment, o deputado Luiz Paulo (Cidadania), afirmou que o tribunal fez justiça pela população fluminense em oposição a uma "plutocracia corrupta":
— Foi corrupção em época de pandemia, pandemia violentíssima. Muitos e muitos mortos, muitos e muitos contaminados. O que se fez na pandemia foi uma crueldade, mas acho que deveria ser visto como crime hediondo. Hoje, a gente fez justiça pela população fluminense pelas mazelas da plutocracia corrupta que se instituiu com a aliança de setores empresariais com governantes e gestores corruptos.
Impeachment repercutiu nas redes
O impeachment de Witzel também gerou manifestações de outras figuras da política nacional, que salientaram a aliança inicial e o posterior rompimento do governador destituído com o presidente Jair Bolsonaro.
"Eleito com apoio da família Bolsonaro, Wilson Witzel cai hoje como um aspirante a Sergio Cabral. É hora de tirarmos o RJ das mãos da máfia e do crime organizado para refundarmos o nosso Estado. O que está em jogo são as vidas de milhões de famílias", escreveu o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL) no Twitter.
"Sete a zero contra Witzel. Cassado. Perdeu. Acabou. Tchau, querido!", tuitou Zambelli.
O prefeito do Rio Eduardo Paes, com quem Witzel disputou o governo estadual em 2018, chegou a publicar uma indireta com referências a antigas rusgas entre ambos — como quando o ex-juiz federal ameaçou dar ao outro voz de prisão durante a campanha eleitoral.
Witzel diz que seguirá na política
Após sofrer impeachment, Wilson Witzel disse pelo Twitter ter sido vítima de um golpe e comparou o TEM ao Estado Islâmico.
"É revoltante o resultado do processo de impeachment! A norma processual e a técnica nunca estiveram presentes. Não fui submetido a um Tribunal de um Estado de Direito, mas sim a um Tribunal Inquisitório. Com direito a um carrasco nos moldes do Estado Islâmico, que não mostrou o rosto", escreveu ele no Twitter, em alusão a Edmar Santos, seu ex-secretário de Saúde.
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